Aspergilose em base de crânio – uma rara doença

Os aspergilos são fungos ambientais. Os seres humanos inalam centenas de conídios por dia sem consequências adversas, exceto para minoria para quem a infecção por Aspergillus sppcausa morbidade significativa.1A aspergilose é espectro patológico determinado por espécies do gênero Aspergillus2 e doença dependente de fatores do hospedeiro e da resposta imunológica.
A infecção de pacientes com imunidade normal, se apresentará mais frequentemente como inflamação da mucosa sinusal. Em pacientes imunocomprometidos, o Aspergillus dissemina-se mais comumente por via hematogênica a partir de um foco pulmonar ou se estende diretamente através das paredes dos seios paranasais para envolver o sistema nervoso central
A infecção é caracterizada por infiltração da mucosa e invasão de organismos fúngicos da cavidade nasal e seios paranasais para estruturas orbitais e intracranianas adjacentes. Invasão fúngica, originada dos seios paranasais da face, pode causar crescimento intracraniano principalmente ao longo do base do crânio e vasos maiores5 e manifestar-se como meningite, abscesso, granuloma ou vasculite.
A aspergilose do sistema nervoso central é frequentemente doença fatal, independentemente do modo de terapia. É sabido que mesmo com procedimentos cirúrgicos e terapia antifúngica, muito poucos sobreviventes em longo prazo de Aspergilluscraniano e intracraniano foram relatados na literatura.RELATO DO CASOHomem de 58 anos deu entrada no hospital com quadro clínico de dor neuropática em território do nervo trigêmeo do lado direito e diminuição da visão do mesmo lado, e sem história pregressa de outras doenças. Ressonância magnética evidenciou processo expansivo em cavidade nasal envolvendo o seio esfenoidal e hipofaringe bilateralmente.
Além disso, havia envolvimento da órbita, seio cavernoso, fossas pterigopalatina e infratemporal à direita, com hipersinal das musculaturas pterigoideia sugerindo denervação subaguda desses músculos (Figura 1). Havia edema no giro reto do lobo frontal à direita. Como a suspeita inicial era de carcinoma foi planejada biópsia endonasal endoscópica com congelação intraoperatória (Figura 2). Ao ser analisado o primeiro fragmento da congelação o patologista definiu não se tratar de carcinoma, mas de provável lesão fúngica (Figura 3).
Baseado nesse achado intraoperatório, a operação foi realizada com ampla ressecção do componente orbital, da fossa pterigopalatina e do esfenoide da lesão. Não houve piora dos sintomas neurológicos no pós-operatório e iniciou-se tratamento antifúngico com itraconazol.
No período de 14 dias o paciente apresentou deterioração neurológica. Nova RM diagnosticou aumento da lesão e múltiplos tumores nos gânglios da base bem como lesões pulmonares, vindo o paciente ao óbito na semana seguinte. FIGURA 1 — A) RM sagital em T1 com gadolínio evidenciando volumosa lesão infiltrante na cavidade nasal com extensão para o seio esfenoidal e clivus superior (seta); B) RM coronal em T2 evidenciando atrofia dos músculos pterigoideos laterais à direita (seta); C) RM axial em T2 lesão expansiva em cavidade nasal com extensão para a órbita.